Quinze pequenos equívocos do golfe brasileiro...Por MARCO FRENETTE

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Muitas das polêmicas que correm devem-se à confusão ou distorção inadvertida de um dos 15 elementos que resolvi enumerar a seguir. Espero que essa lista seja útil para nossas reflexões futuras.

1 - Profissional de competição não é, automaticamente, também um instrutor. Um instrutor deve fazer cursos, ler muitos livros de golfe, e aprender a ensinar;

2 - Instrutor não precisa ter alto rendimento em campo, pois sua obrigação é ensinar bem;

3 - Um atleta de alto rendimento não tem obrigação de dominar os intrincados conhecimentos teóricos e culturais que fazem a riqueza intelectual desse esporte; sua obrigação é treinar e se preparar para fazer excelentes escores sob pressão;

4 - Profissional de competição e instrutor não são, automaticamente, capacitados para dar conselhos sobre equipamentos de golfe, a não ser que também estudem para isso;

5 - Clubmaker e clubfitter são os profissionais especializados para orientar o golfista a ter o equipamento adequado para seu tipo físico e nível de habilidade;

6 - Um instrutor e um profissional de competição não são, automaticamente, também técnicos de atletas. Para tanto, precisam estudar matérias específicas, fazer cursos e adquirir experiência também específica na nova profissão;

7 - Técnico de atletas não conduz seus pupilos de acordo com sua experiência passada como competidor ou instrutor, mas com conhecimentos atualizados de psicologia, estratégia de jogo e utilização de tecnologia ponta para analisar os jogadores;

8 - Especialista em golfe é uma expressão sem sentido, e enganosa; pois não há especialista em golfe, mas especialistas em partes específicas do conhecimento golfístico. Uns entendem muito da história dos torneios e pouco da história do esporte; outro sabe tudo da política interna do golfe e não tem a menor noção do que é um swingweight; outro sabe tudo sobre cuidar da grama, mas nem faz ideia quem foi Homer Kelley, e assim por diante;

9 - Tempo de permanência no golfe, quando não vem acompanhado de estudo e de preparação técnica, não confere título de especialidade a ninguém. Quem fica trinta anos ou quarenta anos na comunidade golfística apenas jogando e frequentando o buraco 19 tem menos preparo para cargos técnicos e de gerência do que um novato que estudou seriamente durante cinco anos em universidades especializadas e fez estágios em grandes organizações do golfe;

10 - Jornalistas de golfe, seja no Brasil ou no exterior, não são especialistas em todas as áreas do esporte. Alguns se especializam na parte técnica; outros na parte histórica; outros em dar notícias de torneios; outros em assessorar clubes; e outros em polemizar sobre os destinos do esporte. Todas as funções são importantes, e, o mais importante de tudo, são funções complementares;

11 - Não golfistas podem contribuir significativamente para o crescimento do esporte no país, sejam nos cargos de gerência e controles administrativos, ou até na de jornalistas. As grandes organizações internacionais cresceram com a ajuda de executivos que nunca tinham batido uma bola de golfe;

12 - Reserva de mercado é um conceito pernicioso e atrasado. Em qualquer lugar do mundo, o golfe cresceu com a ajuda de estrangeiros que sabiam mais, tinham mais experiência, e tinham uma mentalidade mais arejada. A competência, o carinho pelo esporte e a honestidade profissional não têm fronteiras;

13 - Humildade é uma mercadoria escassa, mas precisa deixar de ser escassa. O golfe brasileiro toma surras históricas até do golfe argentino, que não é nenhuma potência golfística, como são os EUA, algumas partes da Europa e a África do Sul; e mesmo diante dessa duradoura realidade, o golfe nacional ainda reluta em mesclar de modo sério e constante a mão de obra nacional com a internacional;

14 - Lábia e conhecimento são coisas diferentes. É preciso distinguir entre o discurso esperto (seja escrito ou falado) e as explanações baseadas em conhecimentos. O discurso esperto é baseado em fatos superficiais e no desmerecimento dos adversários; as explanações citam fontes, se utilizam de conhecimentos distintos, e, por fim, trazem resultados práticos – o que, no golfe, deve se traduzir em vitórias em campo;

15 - Bater bem na bola só prova, a princípio, que a pessoa sabe bater bem na bola... O resto vem do estudo, da preparação, da reflexão e da troca de experiências com profissionais melhores preparados.

* Marco Frenette é Diretor da agencia Shotmaker e Editor da Revista Golf Life. frenette@shotmaker.com

Fonte: Golf e Negócios