CBG adota inglês como língua oficial para brasileiros de alto desempenho

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Para ser um golfista de alto desempenho reconhecido pela Confederação Brasileira de Golfe (CBG), não basta ter talento, dedicar-se aos treinos e jogar no exterior. A se julgar pela carta que José Joaquim Barbosa, vice-presidente técnico da CBG, enviou aos melhores jogadores do Brasil, de juvenis a profissionais (veja reprodução abaixo), a entidade, além de entregar o destino técnico do golfe nacional a um europeu que vive longe do Brasil e mal põe os pés aqui, passou agora a se comunicar com os atletas brasileiros apenas em inglês.

Imagine o susto de duas das maiores revelações do golfe nacional - o campeão brasileiro juvenil Cristian Barcelos, 17 anos, e Anderson Nunes, 16, que representou o Brasil no British Junior de 2012 -, ambos do campo público de Japeri, uma comunidade paupérrima da Baixada Fluminense, quando receberam uma carta em inglês assinada pelo vice-presidente Barbosa, exigindo o preenchimento de um formulário, com dezenas de itens, também em inglês, para que o "coach" - inglês é claro - contratado pela CBG possa avaliá-los, já que ele não mora no Brasil e não fala português.

Hora do espanto - Um susto que só se compara ao dos que sabem que Barbosa, que assina a carta, não tem afinidade com a língua que consagrou Shakespeare. Mas o maior susto da comunidade brasileira de golfe foi a revelação de que Shaun Case - esse é o nome do "coach" contratado há seis meses pela CBG, por prazo e valores não revelados - passou por cima de decisão de todas Federações de golfe do Brasil e da própria diretoria da CBG, para exigir que Pedro da Costa Lima, o Pepê, fosse "desconvocado" da delegação brasileira que tenta o bicampeonato da Los Andes, o Campeonato Sul-Americano de Golfe por Equipes, na próxima semana.

Os responsáveis pelos meninos de Japeri, educadamente, explicaram à CBG que os dois talentosos jogadores não falavam inglês e que precisavam da carta e do questionário em português, que até onde se saiba continua sendo a língua oficial do Brasil e da Confederação Brasileira de Golfe. Passados mais de dois meses, ainda não foram atendidos. Por outro lado, muitos amadores e profissionais de alto desempenho, que até falam bem inglês, nem se deram ao trabalho de responder ao questionário (ao lado), dado ao absurdo das perguntas feitas pelo "coach" inglês.

"Qual seu Smash?" - Responda rápido: quais são suas estatísticas atuais para drives e greens acertados; qual sua média de putts por rodada e por green acertado; qual sua porcentagem de pares salvos da banca e quando erra o green? Um jogador do Tour Europeu, de onde o "coach" deve ter copiado o formulário enviado também a Japeri, talvez saiba. Mas no Brasil, ninguém sabe, nem mesmo os profissionais de ponta, pois eles não dispõem dessas estatísticas nem no Aberto do Brasil, nem em todo o PGA Tour Latinoamérica, que é organizado pelo PGA Tour. Se o "coach" passasse mais tempo aqui, saberia disso.

Acha pouco? Então procure o profissional de seu clube e pergunte a ele o mesmo que o "coach" inglês vem exigindo até dos juvenis da comunidade de Japeri: "qual o ângulo de lançamento de seus drives"; "com quantas rotações por minuto sua bola sai"; "qual a direção do spin"; "quais as características do voo de sua bola"; e - gostei dessa - "qual o smash"? (Essa eu tive que procurar: smash é a velocidade da bola dividida pela velocidade da cabeça do taco)".

C`mon, Shaun! Você está falando sério? Se eu perguntar isso para o Angel Cabrera eu imagino a resposta. Por sinal, se para jogar bem golfe fosse necessário falar inglês, o Cabrera nunca teria vencido dois majors. Vamos respeitar o Brasil e seus jogadores. Mais do que isso, vamos respeitar a decisão das Federações de convocar o primeiro do ranking brasileiro para a Los Andes. Eu entendo sua dificuldade em entender português e imagino que é por isso que você só quer em "seus" times jogadores que morem nos EUA. Mas nós, os brasileiros, ainda preferimos que a escolha seja feita com base no golfe!

Fonte: Golfe.esp.br