QUANDO FOI INICIADA A PRÁTICA DO GOLFE EM PERNAMBUCO?


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por Richard Patrick Conolly r.conolly@onlygolf.com.br

 

Bem, a resposta é fácil. Foi em julho de 1928, quando um grupo de britânicos alugou a parte norte das terras do Engenho Poeta e começou a praticar o golfe num clube com o nome de Pernambuco Golf Club, que, em 1945, adotou o nome de Caxangá Golf & Country Club. Correto? Não, resposta errada. Já se jogava golfe em Pernambuco, pelo menos, vinte anos antes.

O golfe nasceu na Escócia onde já era praticado em meados do século 15. Com a implantação de ferrovias no início do século 19, o jogo se consolidou no restante da Grã-Bretanha. A presença Britânica em quase todo o mundo transformou a prática do golfe num esporte global no final do século 19 e no início do século 20.

A família real portuguesa veio para o Brasil, em 1808, fugindo da invasão das tropas francesas, sob a proteção da marinha britânica. Em 1810, foi firmado o tratado de amizade e comércio entre o Reino Unido da Grã-Bretanha e o Império do Brasil, ampliados e ratificados pelos tratados de 1825 e 1827. Tratados que ficaram conhecidos como “a abertura dos portos às nações amigas”. Os britânicos rapidamente aproveitaram essa oportunidade e durante todo o século 19. Iniciaram atividades comerciais e investimentos nas principais cidades brasileiras, notadamente no Recife, Rio de Janeiro e em São Paulo. Os maiores investimentos foram feitos em ferrovias, bondes, telégrafo, telefones, energia elétrica e atividades bancárias.

Em todas as partes do mundo onde estiveram presentes, os britânicos sempre criavam clubes esportivos e sociais onde pudessem praticar seus esportes favoritos e se reunirem para festas e eventos. No Recife não seria diferente. Fundaram, em 1865, dois clubes de críquete: o Pernambuco Cricket Club e o Excelsior Cricket Club. O Pernambuco Boat Club em 1869, o Pernambuco Lawn Tennis Club em 1886, o Sport Club do Recife em 1905, o Pernambuco British Club em 1906 e o British Country Club em 1920.

Com tantos britânicos no Recife jogando críquete, tênis, futebol e remando, ninguém jogava golfe? Jogava. Em São Paulo os dirigentes e funcionários das empresas britânicas já jogavam golfe, desde 1901, no Morro dos Ingleses, bairro da Bela Vista. Quanto ao Recife, a primeira dica está contida no livro comemorativo dos primeiros 25 anos do Caxangá Golf & Country Club publicado em 1953, que relata:

“Seria difícil precisar a data em que foi introduzido o golf em Pernambuco. Os ingleses, que poderiam fornecer informações a respeito, já não podem fazê-lo. O que é certo é que ai pelo ano de 1909 já se praticava golf em Pernambuco. Quem quer que passasse pela antiga campina do Derby, por aquela época, haveria de notar grandes círculos de barro batido, espalhados pelo vasto gramado e pelos mangues daquele sitio. Wallace Ingham confirma a existência desses greens e a prática do golf nesse improvisado campo.”

Obviamente não era um jogador solitário, mas pelo menos um grupo de jogadores que já praticavam o esporte na sua terra natal, que eram em número suficiente para formar um ou dois foursomes, nos fins de semana e nos feriados e que custeavam a manutenção mínima da área. O campo de golfe era improvisado com, no máximo, dois ou três buracos, pois não haveria espaço para mais buracos. As marcações deviam se limitar a um par de pedras marcando o local de saída e um mastro de madeira com um pedaço de pano indicando a localização do buraco. Os greens, círculos de barro batido. Os buracos eram jogados repetidas vezes até completar a volta estipulada de 9 ou 18 buracos. As regras simples. Jogavam na modalidade match play sem alivio ou molezas para situações ou lies difíceis. Para equalizar as chances entre jogadores com habilidades diferentes, o jogador mais experiente, o Capitão, atribuía, a cada jogador, um handicap ou número de tacadas, que o melhor jogador do grupo iria conceder aos demais. Depois do jogo, provavelmente, se reuniam no bar mais próximo para tomar uns copos de Gin and Tonic com bastante gelo, discutir o resultado do jogo e os perdedores honrarem as apostas.  O jogo devia atrair a atenção de curiosos de passagem pelo local. Homens vestidos de paletó, gravata e chapéu, com as barras das calças enfiadas dentro das meias, usando cajados para bater longe uma bolinha branca e depois sair atrás dela e bater novamente até ela entrar num buraco. Não era uma cena comum do dia a dia. Mas tudo indica que não eram só os homens que jogavam golfe. Numa coluna sobre moda, publicada no Jornal do Recife, em 21 de agosto de 1905, o consultor de moda já comentava sobre os trajes mais usados na prática de esportes:

 

Um comunicado foi publicado no Jornal do Recife em 26 e 27 de maio de 1908 e no Diário de Pernambuco em 27 de maio. A nota, apesar de curta, revela muito sobre a prática do golfe em Pernambuco em 1908. O nome para o clube em formação já havia sido escolhido, havia um comitê provisório e o Secretário do Comitê, T Johnson, trabalhava para uma empresa de navegação inglesa.

Tradução: Pernambuco Golf Club – Qualquer cavalheiro que deseje aderir ao clube acima, presentemente em formação, é convidado a dar seu nome ao abaixo assinado, no escritório da Royal Mail Steam Packet C.o. Pelo comitê provisório. T. Johnson, Secretário.

Os interessados em aderir ao golfe não devem ter sido poucos. Por que, logo em seguida, foram encomendados, pelo Pernambuco Golf Club, tacos e bolas que chegaram ao Recife em princípios de agosto de 1908. Mas, ai, esses implementos esportivos encontraram na alfândega do Recife as barreiras, existentes até os dias de hoje, relativas às dificuldades de importar artigos esportivos não fabricados no Brasil. O imposto, à época, era de 15% sobre o valor dos artigos importados. Mesmo assim, um percentual muito inferior aos impostos e taxas, hoje cobrados, sobre artigos esportivos que chegam a duplicar o custo em relação ao do país de origem. E com isso pretendemos ser uma potência olímpica. Naturalmente indignados com a cobrança de impostos, os dirigentes requereram ao Ministro da Fazenda, no Rio de Janeiro, a isenção do tributo. A decisão do Ministro devia ser ansiosamente aguardada. Tanto que, o Diário de Pernambuco, na edição de 22 de agosto de 1908, publicou o texto do telegrama recebido do Rio de Janeiro com a decisão do Ministro indeferindo o pedido. O imposto deve ter sido pago e os tacos e bolas liberados pela alfândega.

A Primeira Grande Guerra (1914-1918) levou muitos europeus de volta aos seus países de origem. Como consequência, a prática do golfe esmoreceu em Pernambuco. Depois da guerra, novos ingleses foram chegando e se juntando aos já radicados na cidade. Um desses ingleses foi George Little, que trabalhava para Western Telegraph, e era um praticante assíduo do golfe. Tanto fez que em 27 de junho de 1928, publicou uma convocação no quadro de avisos do British Country Club:

“Existe a possibilidade de se arranjar um bom campo de golf para nove buracos a uma distância razoável da cidade. Os que estão dispostos a dar a sua ajuda para a fundação de um clube de golf, em Pernambuco, façam o favor de apor sua assinatura neste aviso.”

Oitenta e sete assinaturas foram apostas no aviso. Em reunião, de 19 de junho de 1928, foi fundado formalmente o clube de golfe e eleita a primeira Diretoria. E qual foi o nome escolhido para o clube? The Pernambuco Golf Club, o mesmo que já vinha sendo adotado desde 1908.

O primeiro Capitão foi, naturalmente, George Little, que reunia as condições ideais para ocupar o cargo: conhecimento, liderança e iniciativa.

Com essas evidências fica comprovado que o golfe já era praticado em Pernambuco, pelo menos desde 1908, o que coloca o estado como o segundo lugar em que se iniciou a prática desse esporte no Brasil, até evidência em contrário. 

Fonte: Richard Patrick Conolly